Projeto Ciclos - Diário de Bordo 34
Depois de sete semanas trabalhando e aprendendo no Canoa Beach Hotel, tínhamos vontade de colocar as rodas na estrada novamente, e no dia 9 de novembro nos despedimos de nossos companheiros de trabalho e seguimos viagem com a AlMa (nosso carro) rumo aos Andes Ecuatorianos. Antes de irmos, ganhamos uns dólares de presente do dono do hotel, que estava contente com nosso trabalho. Esta noite passamos num posto de gasolina, sob um calor e umidade que não sentíamos há tempos; quase não dormimos.
No outro dia continuamos a viagem de manhã, subimos bastante, passamos por uma estrada bucólica, com bastantes curvas, cercada por vegetação baixa e pequenos povoados andinos, e de tarde chegamos a um povoado chamado Quilotoa, que é o ponto de acesso à Laguna Quilotoa. Para entrar no povoado paga-se uma taxa de US$2,00 por pessoa, valor que é utilizado para manter as instalações turísticas. Resolvemos dormir ali, num estacionamento, e visitar a lagoa no outro dia pela manhã. Estávamos a quase quatro mil metros de altitude, então teríamos que ter um cuidado extra com a AlMa. De noite começou uma fina e fria garoa que embalou nossos sonhos, sonhos que eram interrompidos a cada três horas para ligar a AlMa.
A Laguna Quilotoa está dentro da cratera de um vulcão extinto, e a primeira visão que temos dela é de cima, onde podemos contemplar toda a sua beleza e grandiosidade. Para chegar até ela, deve-se fazer uma trilha de uns 30 minutos de descida, dividindo caminho com outros turistas e com cavalos e burros levando turistas morro acima. Como fomos cedo, só pegamos “tráfego” na volta.
A Marcela e a AlMa estavam sentindo a altitude, então resolvemos partir para Baños de Agua Santa, ou simplesmente Baños, no início da tarde. Como última emoção no povoado, contamos com a ajuda de um senhor para empurrar a AlMa até chegar numa descida, para ela pegar no tranco.
Baños estava a 174km de Quilotoa, em um vale úmido e verde, a menos de dois mil metros de altitude, e guardada pelo majestoso vulcão Tungurahua. Lá passamos três noites estacionando em um posto de gasolina, e indo cada dia em uma diferente água termal (preços variando de US$2,00 a US$4,00 por pessoa para entrar e ficar o tempo que quiser). Lá conhecemos também a Casa del Árbol e o Colúmpio del Fin del Mundo, atrações turísticas simples, mas muito atraentes... chegamos bem cedo e ficamos várias horas (paga-se somente US$1,00 por pessoa para entrar na propriedade). Todos os sábados nós aproveitamos para comer alguma coisa diferente (nos outros dias nós cozinhamos), geralmente vamos a um restaurante, e na cidade aproveitamos para conhecer um restaurante vegetariano que uns amigos haviam recomendado.
Há 125km ao norte de Baños estava o Parque Nacional Cotopaxi, que está ao redor do vulcão Cotopaxi, com 5897 metros de altitude. Esse foi o nosso rumo após Baños. No caminho, paramos para comprar um dos famosos sorvetes de Salcedo (experimentei um de frutas muito bom). Fomos para o Parque sem saber nenhuma informação sobre ele e, para nossa surpresa, há uma boa infraestrutura para o visitante, e não se cobra nada pelo seu acesso, nem para acampar (no nosso caso, dormimos na AlMa). Para nossa satisfação, o vulcão estava aparecendo majestoso na paisagem; um lugar que enche os olhos e a alma. O lugar para acampar está a quase quatro mil metros de altitude, onde há um constante e frio vento. Como esperávamos, a noite foi bastante fria, e ligamos a AlMa a cada duas horas e meia para não ter surpresas no outro dia.
Mais 81 km ao norte e chegamos a Quito, a capital do Ecuador. Ficaríamos lá por três noites, mas terminamos ficando sete, hospedados na grande casa de nosso amigo motociclista viajante Juan Fran Veintimilla, que nós havíamos conhecido em uma noite de julho de 2015 no Uruguay, quando ele estava fazendo uma viagem de moto pela América do Sul. Em Quito Marcela teve cólicas pré-menstruais, e eu fui nos representar num almoço de família de Domingo, na casa da avó de Juan. Ele está cheio de projetos: está reformando uma casa para alugar os quartos e para transformar uma parte dela em um restaurante. Além disso, há uns meses começou um negócio de produção e venda de calçados artesanais chamado Muqui Muqui. A explicação para tanta coisa assim é a seguinte: “Até os 30 anos eu irei viver do dinheiro de minha família. Dos 30 aos 40 eu irei focar minhas energias em fazer dinheiro. A partir dos 40 eu irei desfrutar, viajar.”
Apesar das sete noites em Quito, não fizemos turismo por lá, apenas fomos no monumento La Mitad del Mundo, que está localizado por onde passa a Linha do Ecuador (sabia que na linha do Ecuador nosso peso diminui aproximadamente 1kg por causa da ação da força centrípeta?), que divide o globo terrestre em hemisfério sul e hemisfério norte. Nós não chegamos realmente até o monumento, pois se cobram US$3,50 por pessoa para acessá-lo, e não quisemos pagar por isso.
Nossa última parada no lindo e surpreendente Ecuador foi na cidade de Otavalo, famosa pela sua grande feira de artesanatos que acontece aos Sábados. Como passamos por lá num dia de semana, não quisemos parar, e fomos direto buscar um posto de gasolina onde dormir.
Nossa viagem pela América Latina está formada por três partes. A segunda parte já se encaminha para seu final: Colômbia, aí vamos nós!!
Mais uma vez reiteramos que o Ecuador nos surpreendeu pela grande diversidade de paisagens e ecossistemas em um país tão pequeno, além de boa comida e pessoas muito amáveis.
Informações da viagem:
Mapa do trajeto: