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  • Alan Mortean

Primeiros dias e quilômetros na Bolívia

Atualizado: 8 de abr. de 2020


Projeto Ciclos - Diário de bordo 26

Durante a madrugada desse 18 de abril liguei o carro por dez minutos, testando uma nova técnica para facilitar a ignição do motor pela manhã. Minha teoria era que, fazendo isso, o motor não estaria tão frio nas primeiras horas do dia, e seria mais fácil ligá-lo.

Às 6:30 a Marcela abriu a cortina e uma esfera laranja, entre as montanhas no horizonte, enviou sua luz até nossa casa rodante. Energizado, troquei de roupa, pulei para o banco do motorista e dei a partida. Na segunda tentativa a AlMa despertou. Olhei para a Marcela e sorrimos: o dia havia começado bem!

Foto: Chegando a La Quiaca, Argentina.

Nosso plano para esse dia era parar em La Quiaca, a última cidade argentina. Mas, numa viagem (e na vida), tão importante como saber planejar é saber improvisar: necessitávamos wifi, e como não encontramos na cidade, resolvemos cruzar a fronteira e dormir na Bolívia.

Migrando

A migração foi tranquila; a lição do dia aconteceu quando deixamos o carro num estacionamento pago para irmos realizar os trâmites, orientados pela cuidadora do estacionamento. Cinco minutos depois descobrimos que não era necessário deixar o carro lá e voltamos para buscá-lo e pedir o dinheiro de volta, que não conseguimos, mas não saímos de lá antes da Marcela gastar todo seu castelhano desabafando com a moça.

Chegamos a Villazón, a primeira cidade boliviana, separada de La Quiaca por um rio. Na entrada da cidade há muitas lojinhas que vendiam de tudo, ao lado de várias casas de câmbio. A informação turística está na praça central, num prédio novo e bonito, mas a qualidade da informação fornecida é ruim. Nos disseram que haviam apenas duas opções de hospedagem (vimos facilmente dez) e erraram de longe o preço. Dormimos duas noites lá, para começar a nos acostumar ao novo país, nova moeda, comida e cultura, num hotel bem simples e barato (R$25,00 por dia para o casal mais R$5,00 por dia pelo estacionamento).

Foto: Bolivia nos deu boas vindas! Com suas lindas paisagens.

Uyuni

Os próximos dois dias estivemos num trecho de estrada de terra de 200km, dos quais pedalei 50, que une Tupiza a Uyuni, onde está o famoso salar de Uyuni, o maior do mundo. Para mim esse foi o caminho mais bonito e completo até agora: passamos por trechos de boa estrada, de costela de vaca, de areia fofa, de pedra, de pedra solta, cruzamos rios rasos, fizemos uma parte do caminho por dentro de um rio, vimos dunas de areia, terra vermelha, laranja, marrom e branca, montanhas e montes, alguns cobertos de neve, esculturas naturais em rochas... foi uma agradável surpresa. Um caminho lindo para fazer de carro, moto ou bicicleta, sem pressa. Eu queria passar pelo menos mais uma noite, mas a Marcela quis seguir logo a Uyuni para lá conversarmos, pois estávamos em um surto de impaciência mútua.

Chegamos de noite à cidade, a Marcela estava de mal humor e se sentindo mal, com falta de ar e com os lábios um pouco roxos. Depois descobrimos que ela estava sofrendo do mal de altura, pois estávamos a cerca de 3500 metros de altitude. A recomendação para o mal de altura é ficar em repouso, e se os sintomas não melhoram depois de uns dias, a solução é baixar a menores altitudes; foi o que fizemos, depois de passar duas noites descansando num hotel simples na cidade.

A manhã em que saímos de Uyuni foi a manhã da lei de Murphy: de manhã o carro não pegou e a bateria descarregou, compramos um galão de 20L de gasolina pensando que era diesel, fomos no posto colocar diesel no tanque do carro e a bomba estava seca, e para finalizar, por pouco não atolamos o carro enquanto visitávamos o salar de Uyuni.

Foto: Salar do Uyuni

O combustível na Bolívia

Na Bolívia o preço do diesel é de Bs3,74 por litro; porém, para estrangeiros esse valor sobe para Bs8,88, mais que o dobro, o que seria equivalente a aproximadamente R$5,00 por litro, o que me parece um preço excessivamente alto. Perguntando a algumas pessoas e também nos postos de combustível, descobri que, levando um galão de combustível eles poderiam fazer um preço intermediário. Outra opção é pedir para alguém levar o galão para você no posto, pagando Bs3,74 por litro, e depois lhe dar uma gorjeta.

Sucre

Nesse dia viajamos 310km de Uyuni a um ponto na estrada 100km antes de Sucre. O caminho é bem bonito entre Uyuni e Potosí passando por montanhas. Sair de Potosí é difícil, pois não há sinalização; tivemos que perguntar umas cinco vezes para encontrar o caminho. Dormimos num caminho de terra ao lado da estrada, num lugar protegido da vista dos automóveis.

Foto: Olha o "passarinho".

Sucre é a capital de Bolívia, enquanto La Paz é a sede de governo, seja lá o que isso signifique. Seu centro é bonito e organizado, com uma bonita e arborizada praça central. É uma cidade histórica, colonial e com bastantes turistas de todo o mundo. Nela há muita oferta cultural e museus. Seu mercado central, assim como os das outras cidades por onde passamos, é um lugar com muita vida, cores, texturas, cheiros e sabores, onde o visitante é convidado pelos seus cinco sentidos a conhecer um pouco da rica cultura boliviana. Amamos mercados centrais!! Dormimos duas noites na cidade, no centro, na frente da delegacia de polícia, e na noite de despedida comemos um rico hambúrguer de quinoa, um dos três super cereais andinos.

Foto: centro de Sucre, igreja san franscico

No Chile, em cidades do mesmo tamanho que Sucre (260 mil habitantes), e menores, encontrávamos hipermercados, como o Jumbo ou Lider (do Wall Mart); na Bolívia encontramos mercados centrais ricos e diversos, com dezenas ou centenas de pequenos postos de venda, cuidados, em sua maioria, por mulheres, as “cholas”. Qual sociedade é mais desenvolvida?

O aeroporto

Saímos de Sucre antes do sol nascer e viajamos algumas horas antes de parar para o café-da-manhã na beira da estrada, com direito a api, bebida tradicional boliviana feita a base de farinha de milho, cravo, canela, açúcar e fruta desidratada (pêssego, por exemplo). Adoramos provar novos sabores!! Nos disseram que o caminho até Cochabamba estava todo asfaltado, mas fizemos vários quilômetros em uma bonita estrada de pedras, subindo e descendo pequenas montanhas até chegarmos num grande e plano vale onde está Cochabamba e outras cidades. Essa noite terminamos dormindo no estacionamento do aeroporto de Cochabamba, e foi ótimo. A ideia de dormir em aeroportos, em grandes cidades, a Marcela havia visto num blog de outros viajantes de carro.

Foto: Café da Manha boliviano, com bastante Api.

Em menos de dez dias já havíamos chegado a Cochabamba e estávamos a apenas 400 quilômetros da divisa com o Peru. Se tudo desse certo, no outro dia iríamos para um Ashram chamânico perto de Cochabamba. De carro é tão rápido...

Informações da viagem:

Mapa do trecho:

Dia 392 ao 400; 18 a 26/04/2016

De Puesto del Marqués (Argentina)

Para Aeroporto de Cochabamba (Bolívia)

Gastos até agora (R$): 20.797,95

Gastos por dia (R$): 51,99

Distância pedalada até agora (km): 3414

Distância percorrida de carona, de ônibus, de barco e de trem até agora (km): 6923

Distância percorrida com a AlMa até agora (km): 4310

Furos de pneu até agora: 12

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