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Alan Mortean

A Beleza das alturas! Entre Chile e Norte Argentino

Atualizado: 8 de abr. de 2020


Projeto Ciclos - Diário de bordo 25

Já havíamos feito 1850 km rumo ao norte com a AlMa quando chegamos na cidade chilena de Antofagasta. Lá fomos recebidos pelo Nelson, um fotógrafo apaixonado pelo Brasil, que tem um site de viagens chamado Behind a trip (www.behindatrip.com). Seu trabalho é incrivel e recomendamos que acompanhe. Durante três noites conversamos bastante em português, comemos juntos, dei um passeio pela cidade de bicicleta com ele, e demos uma entrevista para o seu site.

Foto 1: Linda foto tirada por Nelson, seu trabalho fotográfico é incrivel e seu projeto inspirador. Foto: Nelson González.

A AlMa seguia com perda de água do sistema de refrigeração, então fomos buscar um mecânico. Depois de duas opiniões, soubemos que ela estava perdendo água pelo escapamento por causa de uma fuga no motor. Solução: trocamos a ‘empaquetadura da culata’ (segundo o Google, em português é junta do cabeçote, hehe) em um mecânico colombiano e a fuga de água finalmente foi resolvida. Mas antes que pudéssemos comemorar, uma nova questão surgiu: o escapamento começou a soltar uma fumaça branca.

Foto 2: Cidade fantasma, um mistério, uma história.

Partimos da cidade pela manhã, e no caminho, em uma subida, senti que a AlMa estava com pouca potência, não passava dos quarenta quilômetros por hora... eita fumaça branca! Mas isso não ia parar nossa viagem. No trecho até Calama, paramos em duas cidades fantasma; eram ex ‘salitreras’, produtoras de nitrato para fertilizantes químicos (há várias nessa estrada), que funcionavam no início do século XX. Em uma delas havia um pequeno cemitério, e parecia que quase todos o s túmulos estavam violados... até caixões abertos vimos. Um cenário intrigante.

Em Calama não conseguimos Couchsurfing, então ficamos ‘morando’ num posto Shell, usando wifi da Petrobrás e carregando a bateria do computador num shopping, até consertarmos o carro. Fomos em dois mecânicos e deixamos com eles os últimos pesos chilenos que havíamos ganhado trabalhando no verão; a fumaça branca parou, colocamos quatro ‘bujías’ novas, mas está um pouco difícil fazer o carro arrancar pela manhã.

Foto 3: Chegando a San Pedro de Atacama.

De Calama, a quase 3 mil metros sobre o nível do mar, descemos a San Pedro de Atacama, a 2 mil e quinhentos metros, um povoado turístico internacional e charmoso, que nos chamou a atenção por suas ruas de terra, estreitas, e por 90% de suas construções serem feitas de barro. Lindo! Nos impressionou o número de agências de turismo, que vendem vários tours pela região, incluso para o Salar de Uyuni, na Bolívia, que será nosso destino em algumas semanas.

Como um destino turístico internacional, San Pedro é caro, mas há alternativas. Nós fizemos dois passeios na cidade, um no popular Valle de la Luna e outro na Quebrada del Diablo. No Valle de la Luna, onde se paga três mil pesos chilenos para entrar, as pessoas geralmente vão assistir ao pôr-do-sol, e nós também, a bordo da AlMa. O visual lá de cima realmente é especial, uma paisagem que só vimos até agora ali, no deserto de Atacama. Mas o melhor passeio foi tirar a poeira de nossas bicicletas e pedalar até a Quebrada del Diablo, diferente de tudo o que já havíamos feito; pedala-se por caminhos de terra, cruza-se pequenos rios e chega-se à incrível Quebrada, que são caminhos formados pela água por milhares de anos em meio a montanhas. Realmente é difícil acreditar que passa água por ali em algum momento, pois tudo é muito seco. No final da pedalada voltamos ao camping onde estávamos dormindo, e almoçamos tomando cerveja e vendo futebol... um grande momento. No povoado também podíamos ter conhecido a Carol Emboava, brasileira que está viajando pela América Latina em bicicleta no projeto Giramérica , mas não conseguimos nos comunicar com ela enquanto estávamos lá.

Foto 4: Retornando ao pedal, desbravando a Garganta del Diablo em San Pedro de Atacama.

Em San Pedro resolvemos seguir o caminho pela Argentina, antes de entrar na Bolívia, pois é asfaltado. Vamos poupar a AlMa do offroad por enquanto. Para cruzar até a Argentina tínhamos que passar pelo Paso Jama (Paso é um passo de montanha, ou seja, um caminho que cruza uma montanha), a quatro mil e quatrocentos metros de altitude. Nosso plano era dormir em algum ponto no passo e seguir até a Argentina no outro dia.

A viagem pelo passo foi especial, pois pudemos auxiliar um casal de mochileiros argentinos dando carona a eles e um casal de cicloturistas belgas, emprestando uma ferramenta para sua bicicleta. Demos caronas aos argentinos na saída de San Pedro até nosso ponto de parada, a trinta quilômetros da fronteira, e eles nos deram várias dicas de lugares para conhecer no norte de seu país, o que guiou nosso roteiro até chegarmos à Bolívia.

Foto 5: Cozinhando a 4600msnm, uma experiência e tanto!

No momento de subida mais forte o motor esquentou, foi a primeira vez que isso aconteceu na viagem. Paramos, esperamos 30 minutos enquanto observávamos o vulcão Licancabur e seguimos, bem devagar. A viagem foi agradável, pois a conversa era boa, a paisagem bonita, e fizemos várias paradas para fotos (vulcão Licancabur e dois Salares). De tarde ventava bastante, o que nos fez lembrar dos relatos de Thiago Fantinatti enquanto pedalava pela Patagônia, com a diferença que nosso vento parou pela noite. Nesse dia nossa comida ficou cheia de cinzas, pelo vento que havia quando cozinhávamos.

Dormimos a quatro mil metros de altitude; de noite o frio foi forte, alcançando temperaturas negativas, pois pela manhã havia gelo nos vidros do carro, e a garrafa de água que estava fora do carro teve uma parte congelada. Esta foi a manhã mais difícil para ligar o carro; na verdade ele pegou no último suspiro, no tranco, na estrada, depois que o empurramos por vários minutos. A bateria já tinha descarregado e o carro pegou no final da descida... que alívio!

Foto 6: Paso Jama. Limite entre Chile e Argentina.

Segui pedalando até a fronteira com a Argentina, Paso Jama, por trinta quilômetros, enquanto a Marcela ia dirigindo. Os trâmites migratórios foram tranquilos, apesar dos temores da Marcela com relação aos documentos do carro. Só precisávamos do passaporte, do carro no nome de um de nós dois (está no nome da Marcela), e dos papéis do carro em dia. Na Argentina passamos pelo Salar Grande e por lindas paisagens, principalmente na Cuesta del Lipán... numa surpreendente descida de serra cheia de curvas, de 17 de quilômetros, que nos levou de 4.170 metros a 2.192 metros de altitude, e de noite chegamos ao povoado turístico de Purmamarca. Dormíamos numa rua deserta, mas à uma e cinquenta da manhã mudamos o carro de lugar pois a Marcela escutou passos perto de nós e não quis mais dormir lá.

Purmamarca, no norte da Argentina, é um destino turístico internacional e é declarado Patrimônio da Humanidade. Assim como em San Pedro, as ruas e as casas são de terra, há vários pequenos restaurantes e vendedores de artesanato nas ruas; artesanatos com as cores e formas típicas do norte argentino e altiplano andino. Neste povoado está o famoso Cerro de los Siete Colores, uma montanha que tem sete cores diferentes, fruto de diferentes camadas sedimentares marinhas, lacustres e fluviais acumuladas ao longo de 75 milhões de anos.

Foto 7: Lo Cerro de los 7 colores, Purmamarca, Argentina que hipnotisa.

De tarde fomos a Tilcara, também pequeno, pacato e bonito, mas como é um lugar turístico, tudo tem um preço; por isso não visitamos o Pucará Tilcara, uma ruína de uma fortaleza inca, nem museus. Tomamos banho e dormimos num posto de combustível na entrada da cidade.

Nosso próximo destino foi Humahuaca, a cidade que dá nome à Quebrada de Humahuaca, que começa perto de Purmamarca. No caminho demos carona a Felipe, um senhor de 72 anos de idade cheio de energia, agricultor orgânico e ansioso (segundo ele mesmo), que nos recomendou lugares para conhecer na Bolívia, nos passou o contato de sua filha que vive lá, nos levou para conhecer o mercado central, o santo das 12 horas (uma estátua de São Francisco mecanizada que todos os dias às 12 horas aparece na torre da igreja com uma música ao fundo), e nos pediu para tentar encontrar uma prima bailarina sua que foi ao Brasil há 40 anos, e que parece que vive em Belo Horizonte.

Foto 8:Salinas Grande. Impossivel ficar com os olhos abertos.

Sem uma boa informação turística na cidade, seguimos até Abra Pampa, onde, como o nome diz, se inicia uma pampa (um terreno mais ou menos plano e com uma vegetação rasteira) onde vimos várias lhamas, e dormimos na frente da Gendarmería (polícia que atua perto de fronteiras, na Argentina), num povoado chamado Puesto del Marqués.

A Bolívia estava logo ali...

Informações da viagem:

Mapa do trecho:

Dia 377 ao391, 03/04/2016 a 17/04/2016

De Las Negras (posto de gasolina Copec)

Para Puesto del Marqués (em frente à Gendarmeria)

Gastos até agora (R$): 20039,47

Gastos por dia (R$): 51,25

Distância pedalada até agora (km): 3364

Distância percorrida de carona, de ônibus, de barco e de trem até agora (km): 6923

Distância percorrida com a AlMa até agora (km): 3112

Furos de pneu até agora: 12

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