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Alan Mortean

Uma viagem dentro da viagem – parte 1

Atualizado: 8 de abr. de 2020


Projeto Ciclos - Diário de bordo 13

Movidos pelas ganas de conhecer um pouco mais a Patagônia argentina, decidimos inovar no Projeto Ciclos e fazer uma viagem sem as bicicletas, de Bariloche a El Calafate, ida e volta. Assim, no dia 21 de setembro colocamos as mochilas nas costas (uma delas emprestada pela Alex, amiga franco-brasileira, valeu!!!) e partimos do hostel com vários sonhos em nossas cabeças.

Foto 1: El Calafate, por favor!!!!

Para diminuirmos os custos e ganharmos novas experiências, estávamos dispostos a fazer o maior trecho possível de carona (até El Calafate seriam 1478Km, pela lendária Ruta 40). A primeira carona veio bem rápido: cinco minutos na saída da cidade e uma caminhonete branca parou. Conversando com o motorista, Davi, descobrimos que o caminho que queríamos fazer era praticamente deserto pela Ruta 40, e que o mais “fácil” seria dar uma volta, passando pela Ruta 3, no litoral argentino, bem mais movimentada. Assim nosso caminho de ida passou a ser de 1841Km.

Com Davi fomos até Comodoro Rivadavia (837Km), e ali dormimos num posto da Petrobrás ao lado da Ruta 3. Nem precisamos pedir para armar a barraca... o frentista nos viu, parou de atender um carro, veio até nós, perguntou se queríamos armar uma barraca e nos indicou um gramado nos fundos do posto.

Foto 2: Posto Petrobras em Comodoro Rivadavia.

O outro dia terminamos em Rio Gallegos (mais 778Km), depois de caminhar uns 4Km na Ruta buscando um posto policial que, fomos ver depois, estava a 20Km, e pegar três caronas: descemos da primeira e uma caminhonete com dois “gauchos” (trabalhadores rurais) parou ao nosso lado e eles nos perguntaram se precisávamos de uma carona; essa foi a segunda carona, com direito a uma apresentacao de fotos de todo o processo de corte e aproveitamento da carne de um cavalo que eles mataram na fazenda, o que chamam de “carneada” aqui na Argentina e no Uruguai. A terceira foi um caminhoneiro chileno que nos deixou na cidade já de noite.

Foto 3 : Alvarito, Huilo Huilo - Chile.

Descemos do caminhão chileno, vimos uma guarita de uma empresa de transporte e fomos perguntar se havia algum lugar para acampar ali perto. Tentando nos ajudar, o vigia conseguiu que um funcionário da empresa que estava saindo àquela hora nos levasse até um posto de combustível onde dormem caminhoneiros. Ali montamos a barraca e dormimos, mesmo sem obtermos autorização, pois o “dono” não estava. A noite foi fria (estávamos a apenas 700Km de Ushuaia, a cidade mais ao sul do mundo). Com os corpos quentes dentro dos sacos de dormir, era possível sentir o ar frio entrando por nossas narinas durante a madrugada. De manhã a confirmação: a condensação de nossa respiração, um pouco de água que se forma entre o teto e o sobreteto da barraca, estava congelada.

Até El Calafate nos faltavam apenas 300Km, que fizemos em ônibus depois de tentar carona por duas horas e meia sem sucesso. Chegamos na rodoviária de Calafate depois de meia-noite e ficamos num “dorme não dorme”, já que não era permitido pernoitar ali. Quando amanheceu fomos buscar um hostel, onde passamos uma noite, pois depois conseguimos um contato que nos hospedou por algumas noites com muito carinho em sua casa, a Maria, que fez um mochilão pela América do Sul há algumas décadas e foi até a Ilha de Galápagos, no Equador... Quanta experiência!!

Foto 4: Dormindo na rodoviaria.

A cidade, ao lado do imenso Lago Argentino (para efeitos de comparação, o lago tem o tamanho aproximado de 700 lagoas da Pampulha juntas), tem apenas 30 mil habitantes, mas recebe cerca de 300 mil turistas todos os anos, segundo o livro Patagônia Mitos y Certezas, atraídos pelo espetacular Glaciar Perito Moreno, que não é algo a se explicar, mas a se viver.

Glaciar é uma grande massa de gelo sobre a superfície terrestre, e se forma quando o volume de neve nas estacoes frias é maior que a evaporação no verão, o que faz com que o gelo se acumule.

Por estar tão ao sul da Argentina e também por causa do turismo, os preços de tudo em El Calafate são altos. Para ir e voltar ao glaciar, que está a 80Km da cidade, o transporte mais barato cobrava 450 pesos por pessoa (aproximadamente 150 reais), fora a taxa de entrada no Parque Nacional Los Glaciares (200 pesos por pessoa), caríssimo!! Ninguém “botava fé”, mas não tínhamos o que perder, entao levantamos cedo e fomos tentar carona até o Glaciar; o primeiro carro que parou foi um táxi, mas não queríamos pagar para nos levar, claro; ele ainda voltou mais duas vezes, dizendo que “há uma outra forma de acertarmos as coisas”, e depois fazendo um preco bem baixo, que recusamos desconfiados. Continuamos tentando e um casal portenho (de Buenos Aires) que estava em férias nos levou (e nos trouxe) com eles. Passamos todo o dia no Glaciar e pudemos apreciar sua majestuosidade por todos os ângulos que os vários quilômetros de passarelas nos permitiam (o Glaciar tem 5km de frente por 60m de altura, por 30Km). É algo diferente de tudo o que já havíamos visto nesta vida, grandioso, imponente, parece um organismo vivo, ainda mais quando vemos “pequenos” pedaços de gelo se desprendendo dele e caindo no lago fazendo um ruído que lembra um trovao.

Foto 5: Sim! É possivel.

Cumprida nossa missão de chegar a El Calafate e vivenciar o Glaciar, começamos a pensar em como fazer o caminho de volta, e resolvemos ir a Bariloche pelo caminho mais curto, ou seja, pela lendária Ruta 40, parando em algumas cidades no caminho, como Esquel, a 1221Km dali, onde tínhamos um contato.

Foto 6: Glaciar Perito Moreno!!!

Contaremos sobre como foi a nossa viagem de retorno a Bariloche no próximo diário de bordo, dentro de uma semana. Vamo que vamo!!!

Informação do percurso

Foto 7 : Mapa do percurso

Dia 173 ao 188 - 12/09/2015 a 27/09/2015

De: San Carlos de Bariloche, Argentina

Para: El Calafate, Argentina

Gastos até agora: R$9478,57

Gastos por dia: R$50,42

Distância pedalada até agora: 2307km

Distância percorrida de carona, de ônibus, de barco e de trem até agora: 4660km

Furos de pneu até agora: 9

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