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  • Foto do escritorOs Antípodas

“Adiós” Uruguai

Atualizado: 15 de abr. de 2020


Diário de bordo 9 - Projeto Ciclos

Nossa estadia em Colônia del Sacramento foi como encontrarmos um porto seguro; nos reorganizamos, planejamos nossos próximos passos e compramos um computador, nosso instrumento de trabalho, já que o nosso havia quebrado lá em Nuevo Berlín (Diário de Bordo 8).

Foto 1 : Colônia del Sacramento.

Na casa de Yolanda e Gustavo (os pais de Giani, o cicloturista uruguaio), na histórica cidade, tivemos contato com uma típica família uruguaia de classe média, vivenciando seu dia a dia, “charlando” (conversando) bastante e desfrutando de boa comida e vinho uruguaio nas refeições que fazíamos em frente à lareira; foram momentos que nos preencheram de carinho e conforto. Além disso, a Marcela aprendeu e compartilhou receitas com a Yolanda, que faz doces para vender.

Foto 2: Yolanda, Gustavo y Giani.

O centro histórico de Colônia é lindo. Marcela pode tirar várias fotos de suas ruas de paralelepípedo, casas antigas com lindas fachadas e vielas com bistrôs e pousadas coloniais. O turismo está bastante desenvolvido aí; há turistas de todo o mundo visitando a cidade. Como nossa prioridade era nos reorganizarmos, não tivemos tempo de nos aprofundar em sua história: assim, acabamos fazendo um turismo mais superficial.

Um dia, em uma loja, conhecemos a um argentino um pouco mais jovem que nós, chamado Cléver, que também é “viajero” (viajante), e que nos disse que poderíamos passar uns dias num rancho onde ele vivia há três meses, com mais dois argentinos (Gonzalo e sua companheira). Fiquei contente com a possibilidade, pois queríamos ficar

Foto3: Farol de Colônia del Sacramento.

mais tempo na cidade e sair só depois que passassem as cólicas pré-menstruais da Marcela: além disso, já estávamos há uma semana na casa de Yolanda, e não queríamos abusar de sua hospitalidade.

Assim, no dia 3 de agosto pedalamos 5Km e chegamos ao “rancho”, na beira do Rio de la Plata, que só encontramos porque estávamos com o Giani e com um outro uruguaio que morava ali perto. A paisagem do entorno era muito bonita: areia, uma grande lagoa com águas negras formada onde antes havia uma pedreira, e uma vegetação que nos fazia recordar a restinga da praia de Massambaba, de Arraial do Cabo-RJ (onde havíamos vivido por um ano), além de pinheiros e eucaliptos.

Quando chegamos, escutamos uma voz gritando atrás da vegetação: “los brasileños”!! Era Gonzalo, que estava cortando seu próprio cabelo num espelho apoiado num tronco de árvore, e que já sabia que iríamos chegar. Conversamos um pouco, ele nos pareceu tranquilo e amoroso, com um estilo hippie.

Entramos na casa, que era um grande espaço com um mezanino; vimos um ambiente escuro e muitos objetos aparentemente sem um lugar onde serem colocados... eram roupas, pratos, livros, lenha, panelas, baldes, bacias... A casa em si parecia uma bioconstrução que não tinha sido terminada: uma bonita estrutura de madeira e pedras, com paredes preenchidas com terra, porém sem rebocar, e alguns pontos com mostras de umidade; no mezanino haviam grandes janelas de vidro, as únicas da casa, que deixavam-no bem iluminado. Boa parte das paredes e do telhado (onde tentou-se colocar um telhado verde, mas sem sucesso por causa da alta inclinação) eram formados por um plástico grosso e várias cordas amarrando-o.

Foto 4: El Rancho.

Não havia banheiro, água encanada, nem um direcionamento para a água usada para lavar vasilhas, que enchia um balde que deveria ser retirado manualmente; também não havia eletricidade.

Para pessoas que não conhecem a bioconstrução, o tipo de realidade que vimos no rancho acaba “queimando o filme”; bioconstrução é a construção que resgata saberes milenares da nossa humanidade e que pode fundir-se com tecnologias atuais, mas não tem relação nenhuma com falta de asseio e organização. Com um entorno lindo e localizado em Colônia, o rancho tem um grande potencial para ser um lugar para receber voluntários para trabalhar em sua manutenção e crescimento, e assim ser o espaço de troca de saberes e experiências idealizado por seus construtores.

O período menstrual da Marcela se aproximava, e seria bom buscarmos um lugar mais asseado e com água quente; assim, depois de apenas uma noite no “rancho”, partimos... Resolvemos dizer “Adiós” ao Uruguai, depois de quase um mês e meio vivenciando sua cultura, seu frio (inédito para nós) e conhecendo lindos lugares, seguindo o Rio Uruguai.

Mas partimos para onde?

Para Buenos Aires; avançamos nosso cronograma em mais uma semana, e acabamos chegando em Buenos Aires um mês antes do planejado. Mas isso contaremos no próximo diário de bordo.

Informação do percurso

Foto 5: Mapa do percurso.

Dia 128 ao 133 - 29/07/2015 a 03/08/2015

Colônia del Sacramento, Uruguai

Gastos até agora: R$3957,00

Gastos por dia: R$29,75

Distância pedalada até agora: 1940km

Distância percorrida de carro, de ônibus, de barco e de trem até agora: 1289km

Furos de pneu até agora: 7



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