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Foto do escritorOs Antípodas

Tempo livre

Atualizado: 7 de abr. de 2020

"Grandes realizações não são feitas por impulso, mas por uma soma de pequenas realizações" - Vincent Van Gogh.

Durante uma viagem de ônibus, sem sono, comecei a pensar sobre as facilidades materiais e tecnologias das quais dispomos hoje, e sobre como elas são resultado do esforço e dedicação de inúmeras pessoas.

Por exemplo: uma simples torneira é resultado de milhares de anos de aperfeiçoamento da tecnologia de transporte de água. Talvez tenha se iniciado como uma vala na terra para desviar água de um rio; depois vieram os aquedutos, como os construídos pelos astecas ou pelos romanos, que levavam água por quilômetros para abastecer cidades, feitos de pedras, tijolos, cal. Com o avanço da metalurgia, foi possível usar metais para transportar água em tubulações. A partir do momento em que se iniciou uma distribuição de água mais personalizada, nas casas ao invés de em fontes públicas, imagino que começaram a surgir os primeiros modelos de dispositivos que controlavam o fluxo de água, ou seja, torneiras que você podia abrir e fechar. O desenvolvimento da química e da petroquímica nos trouxe os plásticos, os canos de plástico e suas conexões. Isso, junto com o aperfeiçoamento da metalurgia, do design, com a criação da borracha sintética e com conhecimentos de hidráulica acumulados por milhares de anos, propiciou a existência das torneiras como as conhecemos hoje. Assim, não precisamos mais buscar água numa fonte ou rio diariamente para nossa higiene pessoal, para cozinhar, para limpar coisas e para bebermos.

"Acender o sentimento de “não ter” deve criar uma enorme gratidão pelo que temos" - Autor desconhecido.

Imaginem quantos milhares (ou seriam milhões?) de pessoas contribuíram para que hoje possamos ter algumas “simples” torneiras em nossas casas? ...e se elas não existissem?

E se não houvessem torneiras?

E se pensarmos em outro “economizador de tempo” como o fogão? Com ele, o tempo de ir pegar madeira e deixá-la secar para poder ser usada como combustível, já não existe.

Aqui há apenas dois exemplos básicos para nossa sobrevivência: a água e o fogo. Fazendo uma conta rápida, se usássemos uma hora por dia para buscar água e meia hora por dia para buscar lenha e acender o fogo, teríamos mais de 10 horas por semana comprometidas com essas funções. Imagine quantas horas devemos ter disponíveis a mais em nosso dia, se nos compararmos aos nossos avós ou bisavós há cerca de 100 anos.

Falando sobre tempo livre, há dois anos um grupo de indígenas da etnia Xavante, do Mato Grosso, veio visitar o TIBÁ, lugar onde vivo atualmente, para uma troca de experiências. Eles se referem ao homem branco como “Warazu”, que, no idioma Xavante, significa, segundo o cacique, “homem sem tempo”...

Se você não tem tempo para nada (mas leu o texto até aqui), lhe convido a refletir: o que fazemos com essas horas livres? Ou elas já não são tão livres?

Tsito’Ti, cacique Xavante. Eles se referem aos brancos como “Warazu”, que, em seu idioma, significa “homem sem tempo”. Foto de Pedro Kiua, 2012.

Uma possível resposta à pergunta acima é: assisto à TV. Nós brasileiros, vemos em média 20 horas de TV por semana, segundo a revista Exame, da editora Abril, ou 24 horas segundo o governo federal. Sim, a TV, que é um meio de comunicação maravilhoso, mas que é dominada por empresas privadas (chamada canais) que tem o lucro como principal objetivo. Para alcançá-lo, usam e abusam da publicidade e das mensagens subliminares.

"Só há duas opções nessa vida: se resignar ou se indignar. Não vou me resignar nunca" - Darcy Ribeiro, autor do livro "O povo brasileiro".

Além disso, pela falta de regulamentação governamental, os canais apresentam programação de baixa qualidade, que promove o medo e a desconfiança entre as pessoas, ao invés de promover a paz e a cooperação (ver mais sobre isso no documentário “Criança, a alma do negócio”).

Aliás, segundo o documentário “Intervozes, levante sua voz”, praticamente toda a informação veiculada na grande mídia (televisão, rádio, jornais e revistas) no Brasil é controlada por apenas 11 famílias. Elas controlam o que iremos ver ou não ver, as informações que iremos acessar ou não. Claro, todas essas 11 famílias são muito ricas. Talvez algumas delas pertença ao grupo dos 0,1% mais ricos do Brasil, que ganha R$198 mil mensais e detem 11% da renda nacional (ver “Os super-ricos do Brasil” nas referências).

O primeiro turno das eleições no Brasil acabou de acontecer; nesta época, há uma esperança de mudanças no ar. Como podemos esperar alguma mudança no Brasil se 90% das informações que recebemos passam pelo filtro de alguma dessas 11 famílias? Qualquer mudança mais séria na sociedade poderia implicar na perda de dinheiro e poder dessas famílias... você acha que alguma delas desejaria isso? Se depender dos meios de comunicação que temos hoje, não haverá mudanças, a não ser as mudanças que lhes trouxerem um maior lucro econômico.

Felizmente, com a internet podemos ser mais ativos do que com a TV, acessando informações que promovem nossa reflexão e fomentam o pensamento crítico. Para isso, gosto de sites que não pertencem à grande mídia; nesse contexto, há as chamadas “mídias independentes”... busque-as na internet. Além delas, uma fonte importante de informação para mim são documentários, que pego de amigos ou do site Docverdade (endereço nas referências, após o texto), que traz uma série de documentários que não são veiculados na grande mídia.

Estamos nesta vida para aprender, invistamos nosso tempo nisso!

“Para os outros o direito de serem como são. Para mim, o dever de ser cada dia melhor” – Chico Xavier, médium, divulgador do espiritismo.

Diminuamos o tempo dedicado à TV. Busquemos livros (mas não só os mais vendidos), documentários (mas não só os da Animal Planet ou National Geographic), tomemos as rédeas de nossas vidas, sejamos melhores a cada dia, nutrindo o espírito (podemos fazer isso através de uma filosofia ou religião, se preferirmos). A felicidade é aqui e agora, nós somos responsáveis por nossas vidas. Cuidemos de nosso corpo, não com os excessos da moda, projetando nossa felicidade num padrão de beleza artificial, mas com atividade física moderada e alimentos de verdade.

Ler. “Através da escrita, um autor, talvez morto há milhares de anos, fala diretamente e em silêncio dentro de sua cabeça, diretamente para você” – Carl Sagan.

“O ato político mais radical é ser um otimista, é acreditar que, se eu mudar, outras pessoas também irão fazer isso em breve” – Colin Beavan – documentário “No Impact Man”.

Espírito sadio, corpo sadio. É hora de evoluir.

Referências:

Brasileiro consome 20 horas semanais de TV - Revista Exame: http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/brasileiro-consome-20-horas-semanais-de-tv

Os super-ricos do Brasil – Folha: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2014/09/1519387-os-super-ricos-do-brasil.shtml

Documentário: “Criança, a alma do negócio”: http://www.youtube.com/watch?v=KQQrHH4RrNc

Documentário: “Intervozes – levante sua voz”: http://www.youtube.com/watch?v=KgCX2ONf6BU

Documentário: “No impact man”: http://docverdade.blogspot.com.br/2012/04/homem-sem-impacto-no-impact-man-2009.html

Pensamento crítico - wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamento_cr%C3%ADtico

Pesquisa Brasileira de Mídia 2014. Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República - Link para download: http://observatoriodaimprensa.com.br/download/PesquisaBrasileiradeMidia2014.pdf

Site “Docverdade”: www.docverdade.com.br

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