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  • Foto do escritorOs Antípodas

TIBÁ

Atualizado: 7 de abr. de 2020


“...but in reality, nothing is more damaging to the adventurous spirit within a man than a secure future.” – Chris McCandless, livro (e filme) Into the Wild.

“Na realidade, nada é mais prejudicial a um espírito aventureiro de um homem do que um futuro seguro” – Chris McCandless, livro (e filme) Na Natureza Selvagem.

Texto que rascunhei dia 27 de agosto de 2012, publicado no Blog da Expedição Villas-Bôas, e agora atualizado e publicado nOs Antípodas:

Estou no TIBÁ Tecnologia Intuitiva e Bioarquitetura há um dia. Caramba, um dia somente. Parece que foi mais tempo, acabo de notar isto. O dia foi intenso, muita novidade; ambiente novo, novos conhecidos, e mão na massa desde o início.

O TIBÁ é um centro de permacultura e bioconstrução, conhecido no Brasil e no mundo devido, principalmente, ao livro escrito pelo seu fundador Johan Van Lengen, o Manual do Arquiteto Descalço, disponível em português brasileiro e de Portugal, inglês e espanhol. O Manual é totalmente didático e promove a autoconstrução, ou seja, nos incentiva a construir nossas próprias casas, mostrando várias técnicas construtivas de baixo impacto e baixo custo.

A sede do TIBÁ localiza-se em Bom Jardim, região serrana do estado do Rio de Janeiro, em uma ex-fazenda de café, com 20 hectares, para onde vem brasileiros e pessoas do mundo todo em busca da aplicação prática dos conhecimentos e tecnologias contidas no livro de Johan. Para isso, há cursos específicos, ou o programa de aprendiz, que é uma oportunidade de vivenciar o estilo de vida “tibano” no dia-a-dia, trabalhando com a manutenção e crescimento do centro durante cinco semanas. Pois bem... é nesta aventura de 35 dias que adentrei.

Figura 1: Peter, Verônica (coordenadores) e aprendizes TIBÁ

Hoje, após o primeiro dia de trabalho, estava na varanda conversando com um belga, que também está participando do programa de Aprendiz. Ele quase não fala português e eu não falo belga, então nos entendemos no inglês. Conversa vai, conversa vem, percebi que temos pensamentos em comum, como notei aqui com várias pessoas (é bom ser aceito e conhecer pessoas com objetivo comuns aos meus), e ele me disse mais ou menos isso: “Você já pensou no que estamos fazendo? Nós vamos para a zona rural, afastados da sociedade, trabalhamos de graça ajudando um cara a construir sua casa... e o mais louco é que ainda pagamos por isso.”

Figura 2: fazendo placas de plastocimento, que se tornarão um Bason (banheiro seco desenvolvido por Johan)

“Heeeeey man” (parafraseando Willan, um dos belgas), eu nunca tinha pensado nisso antes. Para o mundo “normal”, sendo “normal” todo o comportamento esperado das pessoas que vivem em nossa sociedade capitalista ocidental neoliberalista (como diria Ross Jackson em seu livro Occupy World Street), comportamento este, ligado ao consumo de bens inúteis, ao amor pelo dinheiro e desamor pelos nossos irmãos (quase sempre vistos como competidores); um mundo baseado numa ganância sem limites, assim como deve ser sem limites o crescimento econômico e o crescimento do PIB (e o crescimento das desigualdades). Para este mundo, o que estamos fazendo aqui no TIBÁ não faz o menor sentido.

"Não é sinal de saúde estar ajustado e uma sociedade extremamente doente" - Racionais MC's.

Figura 3: trabalho coletivo

Todos querem um futuro seguro, seja lá o que isso quer dizer. A reflexão é: se você acha que tem um futuro seguro, se você vislumbra essa possibilidade, você estará menos propenso a arriscar. E essa comodidade vai sugando nossas vidas, dia após dia... e vamos, aos poucos, nos tornando iguais àqueles que criticávamos, reproduzindo uma forma de vida vazia, baseada no ‘ter’ e não no ‘ser’, que é o mais importante, como disse Buda.

Vivemos um tempo de efervescência de idéias, um período de mudanças, que não sei onde conduzirá nossa humanidade; mas tenho certeza de que temos todas as condições de escolher um caminho mais calmo e tranquilo para nossas vidas e para a de nossos irmãos, que é a adoção de uma vida mais simples. Para isso, algo fundamental é ter humildade, e aceitar que nossa sociedade, supostamente tão evoluída, irá colapsar se continuarmos agindo como se vivêssemos num planeta com recursos infinitos.

Esta humildade nos fará olhar para trás e para os lados, para ver exemplos belíssimos de como viviam nossos antepassados e de como vivem milhares, talvez milhões, de pessoas e grupos no mundo, como em comunidades tradicionais e ecovilas. E o mais importante, vivem com felicidade, porque a vida é boa demais.

Falando em ecovilas (em linhas gerais, comunidades em que as pessoas se juntam para viver em maior harmonia com o meio ambiente), hoje, 18 de julho de 2014, Johan, compartilhando um pouco de sua sabedoria conosco, disse algo mais ou menos assim: “se quer pensar em ecovilas, é só voltar no tempo, há 500 ou 2000 anos atrás. Nesta época, toda vila era uma ECOvila, pois seus habitantes tinham que construir usando apenas materiais da região, plantavam a própria comida, pegavam água de lugares próximos, enfim, viviam de um modo próximo do que hoje classificaríamos como sustentável. Por termos “perdido” ou negado esses conhecimentos ancestrais, agora temos que revivê-los, pois todo aquele que não conhece o passado tem que recriá-lo”. Então recriamos as ecovilas...

TIBÁ, na língua tupi, significa “lugar onde as pessoas se encontram”.

Figura 4: TIBÁ

Página web do TIBÁ: www.tibarose.com

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