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  • Foto do escritorOs Antípodas

Jamaica? Não, Belize.

Atualizado: 8 de abr. de 2020


Projeto Ciclos – Diário de bordo 42.

Belize é o país mais desconhecido da América Central, assim como é o Paraguai na América do Sul. Esse foi o principal motivo que nos levou a incluir esses dois países em nossa viagem.

Para começar, Belize fala inglês e tem a maioria da população negra; em suas ruas escutávamos Bob Marley. Isso, somado ao fato de que o povoado onde chegamos, de barco, era bem pequeno, nos fez sentir como em um povoado da Jamaica. Já fazia tempo que não sentíamos uma grande mudança cultural ao cruzar uma fronteira.

Na imigração foram mais rigorosos que nos outros países da América Central, e tivemos que comer algumas frutas que levávamos que não podiam entrar no país. Também pediram o endereço onde dormiríamos, mas não tínhamos, e isso também retardou nossa entrada. No fim, nos deixaram entrar assim mesmo.

Ficaríamos na casa de um Couchsurfer em nossa primeira noite, mas não conseguimos comunicar-nos bem e não sabíamos onde estava sua casa. Então buscamos um hostel e no caminho fomos alertados por um ciclista que estávamos na contra-mão. Sim, aqui as bicicletas devem respeitar as leis de trânsito. Agradecemos o alerta e seguimos por outra rua. Nessa rua um cara nos cumprimentou; era Hakeen, do Couchsurf!! Ele estava indo nos buscar na imigração, hahaha!!

Assim, acidentalmente, encontramos nosso anfitrião em nosso primeiro dia em Belize.

Hakeen vivia sozinho e gostava muito da vida noturna. Ele nos dizia: “You know, I’m a single guy...” (sabe né, eu sou um cara solteiro). Era Sábado e ele saiu para uma festa enquanto nós ficamos dormindo na sala. No outro dia saímos bem cedo, como de costume, uma hora depois de ele ter chegado, hahaha.

A estrada teve seus primeiros 10km em terra e era quase deserta. O céu nublado se misturava com o verde denso da vegetação que nos acompanhava e com o tom laranja da estrada. O ar era tranquilo e todas as pessoas que passavam por nós nos cumprimentavam “Hi”, “Good morning”.

Quando o caminho tornou-se pavimentado, ainda haviam poucas casas, poucos carros e bastante vegetação. Pedalamos bastante, e chegamos a Mango Creek com 102km de caminho praticamente plano. A hospedagem mais econômica lá nos custou 50 dólares de Belize.

Belize é um país caro, só é mais barato que a Costa Rica na América Central e, apesar de ser um país tropical, oferece pouca diversidade de frutas, verduras e legumes. A única fruta barata é a banana: 8 por um dólar de Belize.

Isso inevitavelmente me gerou várias questões: por que em um país com tantos recursos naturais a comida é cara e pouco diversa? Isso é uma política de governo? É uma estratégia não incentivar as pessoas a fazer hortas em suas casas ou comunidades, e assim gerar uma reserva de mão de obra para trabalhar nas grandes monoculturas de laranja, banana e cana-de-açúcar espalhadas por todo o território belizenho? Bom... talvez eu fui muito longe nas reflexões...

De Mango Creek tomamos um barco (Hoakey Hoakey Water Service) de 20 minutos até Placencia, que é um pequeno povoado turístico numa península. Acampamos numa linda praia, na sombra de coqueiros, no hostel Anda Di Hows, com cozinha, wifi, banheiro e ducha, só por 15 dólares de Belize para os dois.

O período menstrual da marcela estava chegando, mas ela não queria ficar ali. Então resolvemos seguir até Hope Creek, a 85km. Lá descobrimos que o lugar era só um vilarejo, e fomos de porta em porta até encontrar um quarto para alugar, com a ajuda de um missionário estadunidense. Estivemos 6 noites por lá, sem TV nem wifi, e comendo alimentos crus, pois em Belize não encontramos nenhum álcool inflamável para cozinhar em nosso fogareiro. Queriam nos cobrar 75 dólares de Belize por dia, mas terminamos negociando por 40 o aluguel.

Estivemos no país 13 dias, 5 deles totalmente parados, e pedalamos aproximadamente 450km.

De Hope Creek seguimos a Coast Road, caminho de terra com pouco movimento e bonito, com rios e bastante vegetação. Nesses próximos dias dormimos acampando na hospedagem do Belize Zoo, numa casa de uma ong chamada WFM Mission, numa Guest House em más condições e, no último dia, num hotel cassino na fronteira com o México, luxuosíssimo para nossos padrões. Até nos permitimos almoçar em seu restaurante. Um dia de reis!

Este hotel estava entre o território de Belize e México, depois da imigração de Belize mas antes da imigração mexicana. Para sair do país, cada estrangeiro deve pagar 40 dólares de Belize. Caríssimo!!

Nossa experiência em Belize foi interessante. Apesar de ser caro, é muito bom para pedalar pois quase não há movimento nas estradas, há muito verde, as pessoas são simples e amistosas e há lindas praias para conhecer. Sobre o idioma, no centro e sul do país praticamente só se fala inglês, e no norte se fala inglês e espanhol.

Haviam passado um ano e 364 dias desde que havíamos dado as primeiras pedaladas, saindo de Ourinhos, São Paulo, Brasil.

Amanhã cumpriremos dois anos de viagem e cruzaremos as fronteiras do último país do Projeto Ciclos: o México!!!

Informações da viagem:

Mapa do trajeto:

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