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  • Alan Mortean

Chegando à costa

Atualizado: 8 de abr. de 2020


Projeto Ciclos - Diário de bordo 18

Na pequena cidade de Pichidegua, localizada no centro do chile, estivemos duas noites com Camila e Rodrigo, o jovem casal de médicos chilenos. Depois do futebol na primeira noite, participamos de um pequeno “asado” na segunda. Como bons ovolactovegetarianos, participamos assando uma abobrinha com queijo, tomamos duas gostosas cervejas (uma alemã e uma boliviana), e fomos dormir cedo, pois no outro dia continuaríamos a viagem!!

“Asado” é a maneira de dizer churrasco no Uruguai Argentina e Chile.

Foto 1: Caminho entre vinhedos e montanhas, lindo despertar!

Nos despertamos cedo, já tínhamos deixado as bicicletas organizadas, e, como de costume, paramos para o café-da-manhã depois de uma hora de pedal, na beira da estrada. Fazemos isso por dois motivos: para começarmos a pedalar mais cedo, com o sol mais fraco, e para comermos quando estamos com fome, pois nem sempre estamos famintos quando despertamos.

O caminho foi pela “Carretera de la fruta”, a Estrada da Fruta, que liga a região produtora de frutas do país ao seu principal porto, na cidade de San Antonio. O caminho é de estrada simples, quase todo com um pequeno acostamento. Esperávamos um caminho difícil pelos caminhões, mas, na verdade, haviam bem poucos nesse dia, e os momentos de maior perigo ficaram por conta dos carros que, vindo de frente nos trechos retos, realizavam ultrapassagens como se nós não estivéssemos ali e nos forçavam a sair da pista... eu me sentia desrespeitado.

Foto 2: Desjejum em uma igrejinha.

Após cerca de 50 mil pedaladas, que nos levaram por 105km, chegamos à costa chilena, na cidade de Santo Domingo, onde ficamos na casa de uma família esportista: Marcela, Roberto e o pequeno Aníbal, de dois anos. O casal é adepto ao esporte e faz questão que seu filho os acompanhe nisso, correndo, andando em bicicleta e nadando; inclusive, Roberto nos contou que há pouco tempo ele e Aníbal haviam participado de uma corrida de vários quilômetros entre pais com seus filhos em carrinhos de bebê, ficando na segunda posição. Estivemos com eles por duas noites, e eles nos levaram para conhecer a cidade, a unidade do corpo de bombeiros onde Roberto é voluntário, nos levaram para jantar, cozinharam para nós, e no fim ainda nos presentearam com uma garrafa de vinho para levarmos na viagem, um vinho especial que se chamava Bicicleta. Um lindo presente!!

“Diferentemente do Brasil, no Paraguai, Uruguai, Argentina e Chile os bombeiros são voluntários, apenas os motoristas dos caminhões são contratados”

Foto 3: Regalo especial dos amigos de Santo Domingo, obrigado Marcela, Roberto e Anibal.

Uma vez na costa chilena, seguimos contornando-a por 40km até chegarmos na cidade de El Quisco, nosso próximo destino. Neste dia tivemos um café-da-manhã “gourmet” no caminho, com pão, palta, manteiga de amendoim, queijo ralado, frutas e vinho Bicicleta, que garantiu uma dose extra de alegria durante o pedal nesse dia. Sentados na grama, tranquilos, ao lado de uma cama de flores silvestres amarelas, fizemos umas contas e concluímos que estávamos há 10 dias consecutivos tomando alguma bebida alcoólica... é o resultado da receptividade chilena: nossos hospedeiros sempre nos ofereciam uma taça de vinho ou uma cerveja enquanto conversávamos pela noite.

“Palta é uma espécie de abacate pequeno, que se come com pão”

Em El Quisco ganhamos algumas batatas, maçãs e tomates gentilmente doados em duas mercearias onde fomos pedir; logo nos dirigimos à casa de José, um veterinário mexicano gente fina, que mora com sua esposa Alia, australiana, e seu filho Olín, de um ano e meio, chileno, juntos formando uma verdadeira mistura cultural. Eles nos deixaram tão à vontade, e nós estávamos tão adiantados em nosso cronograma que permanecemos com eles por cinco noites, comendo diariamente os gostosos “porotos negros” (feijões pretos) preparados pela Alia. Como se já não fosse suficiente, José, quando não estava na clínica, encontrou tempo para nos levar até o museu de Pablo Neruda, até as lindas praias “canelo e canelillo”, a mais bonita que já vimos até agora no país, além de nos levar para ver o jogo de Chile x Uruguai pelas eliminatórias da copa do mundo na casa de um casal de amigos uruguaios seus.

Foto 4: Visita ao museu Pablo Neruda, Isla Negra. Casa onde faleceu o poeta.

Pablo Neruda foi um poeta, escritor, embaixador e senador chileno reconhecido como um dos maiores poetas ocidentais do século XX, e ganhador de um prêmio Nobel. Aqui no Chile há três casas onde ele viveu que hoje são museus privados geridos pela Fundação que leva o seu nome. Personalidade reconhecida no Chile e no exterior, membro do partido comunista chileno, viveu de 1904 a 1973, morrendo em seu país em circunstâncias duvidosas, 12 dias após o golpe militar liderado pelo então general das forças armadas Augusto Pinochet. Diga-se de passagem, esse foi mais um lamentável golpe militar na América do Sul, com o apoio a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (a famosa CIA), que retirava do cargo, à força, um presidente eleito pelo voto.

“O golpe militar no Chile ocorreu no dia 11 de setembro de 1973”

As praias Canelo e Canelillo são lindas em seu conjunto, formado por bosque, praia, formações rochosas e aves. Para se chegar em sua faixa de areia branca deve-se atravessar um bosque de pinus; a água é fria, mas em um dia de sol e calor é possível encarar o Oceano Pacífico. Na extremidade esquerda da praia Canelo há uma grande rocha de 10 ou 20 metros de altura que é parte de um espetáculo natural: centenas, ou talvez milhares de aves ficam sobrevoando a zona, indo de uma pequena península onde há um farol até a grande rocha, em um percurso de cerca de um quilômetro. Chegamos caminhando à rocha e permanecemos contemplando a paisagem e o voo das aves por mais de uma hora.

Foto 5: Praia Canelo e Canelillo, Algarrobo.

A noite do jogo entre o Chile e o Uruguai foi ótima, pois a energia era muito boa, o casal anfitrião estava muito feliz pois seu país ganhou por 3 a 0 o jogo, tomamos o ótimo mate (chimarrão) uruguaio, e terminamos a noite com um típico “asado”, onde nós contribuímos com algumas batatas. A verdade é que a essa altura, quando começou o “asado”, já não tínhamos fome, pois havíamos acabado com a mesa de aperitivos durante o jogo, hehehe. Na despedida, o casal, vendo que gostávamos de tomar mate, amavelmente nos presenteou com um quilo da boa erva mate uruguaia.

Foto 6: Valparaíso ai vamos!!

Nosso próximo destino, após El Quisco, seria a cidade de Valparaiso, conhecida como a capital cultural chilena, mas tivemos um pequeno problema durante o caminho, que contaremos no próximo diário de bordo.

Vamo que vamo!!!

Informação do percurso

Mapa do percurso

Dia 236 ao 242 – 14/11/2015 a 20/11/2015

De: Pichidegua, Chile

Para: El Quisco, Chile

Gastos até agora: R$13248,01

Gastos por dia: R$54,74

Distância pedalada até agora: 3270km

Distância percorrida de carona, de ônibus, de barco e de trem até agora: 6571km

Furos de pneu até agora: 10

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