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  • Alan Mortean

De casa em casa, de família em família

Atualizado: 8 de abr. de 2020


Diário de bordo 17 do Projeto Ciclos

Depois da ótima energia da família de Eduardo em Victoria, pedalamos para Angol, nos desviando da Ruta 5, que a cada quilômetro se tornava mais ruidosa (por estarmos cada vez mais próximos da capital do Chile, Santiago); nesse dia completamos 3 mil km pedalados. Na autoestrada havia uma ponte que passava ao lado de uma antiga ponte de trens tombada como patrimônio chileno, e para minha surpresa a Marcela ficou com muito medo de cruzá-la, pois, apesar de seu grande tamanho, tremia a cada vez que passava um caminhão. A solução que ela encontrou foi deixar a bicicleta comigo num lado e atravessar a ponte correndo... uma cena muito engraçada se não fosse trágica, hahaha. Assim, eu cruzei a ponte com as duas bicicletas, e pedalamos mais meia hora para a Marcela se retranquilizar. A confusão foi tamanha que nem tiramos foto da bonita ponte de trens.

A primavera chegou trazendo muitas flores e também calor; então, cerca de 10km antes da cidade de Angol nós paramos para descansar e aproveitamos para ligar para Raúl, o nosso contato na cidade, que perguntou onde estávamos e se ofereceu para nos buscar com sua caminhonete; nos olhamos e aceitamos na hora a sugestao.

Foto 1: Resgatados.

Nosso anfitriao vive numa casa grande com sua companheira Maria Inés e mais cinco cachorras. Ela, argentina, é médica, e ele é psicólogo e escritor, com 5 livros publicados. Raúl tem personalidade forte e paterna e me fez lembrar de dois conhecidos, devido às histórias fantásticas de vida que nos contava diariamente. Eles foram super anfitriões e fizeram questão de compartilhar todas as refeições conosco, geralmente com deliciosos morangos de sobremesa pela noite. Ali permanecemos quatro noites, tempo suficiente para passar o período de cólicas pré-menstruais da Marcela. Eles, muito amáveis, ainda nos convidaram a passar mais duas noites em sua casa para conhecermos um pouco a região, mas já tínhamos confirmado nossos próximos passos no país; então era hora de partir.

Foto 2: Carretera del vino.

Temos que chegar a Valparaíso no dia 22 de novembro para começarmos um trabalho voluntário (através da rede www.workaway.info); então colocamos nossas bicicletas num ônibus em Angol e avançamos 320 km até a cidade de Talca, que nos marcou pela gastronomia. Ali ficamos na casa de Gonzalo e Camila, ele chileno e ela brasileira, escritora do Blog O melhor mês do ano, onde há várias dicas para quem quer viajar pela América do Sul; eles nos levaram num “asado” (churrasco) na primeira noite, onde nossos “filés” de abobrinhas e cenoura foram bem aceitos, hehehe; no domingo fomos almocar na casa dos pais de Gonzalo, onde comemos muito e muito bem, e experimentamos pela primeira vez o vinho da uva Carménere, típico da região. Para finalizar o dia fomos comer um “completo”, uma espécie de cachorro quente chileno, que comemos sem carne: pao, maionese caseira, “palta” (abacate) e chucrute (repolho temperado).

Cheios de energia saímos pedalando de Talca, mas depois de 30km pegamos uma carona com uma caminhonete, pois não estávamos nos sentindo seguros pedalando pela Ruta 5. Porém, mesmo com a carona, essa sensação não foi muito diferente, pois o motorista era bem rápido. Ele estava em suas últimas semanas de trabalho em Santiago, depois de 10 anos no ramo de montagem de estruturas de metal, viajando por todo o país. Nos comentou que estava a 3 anos sem férias, e estava visivelmente estressado, mas sorria quando falava da família e da perspectiva de deixar o trabalho e mudar de vida em poucas semanas. Nesse mesmo dia, algumas horas depois, enquanto usávamos a internet numa cafeteria, escutamos na TV que uma caminhonete vermelha havia batido num pedágio no caminho para Santiago. No mesmo momento nos olhamos e um frio na barriga nos invadiu.... Seria a caminhonete que nos havia levado?

Foto 3: Uma inda foto.

Não era, e ficamos aliviados... mas depois pensei: “Por que eu fiquei aliviado?” “Por que o cara que nos havia dado carona era mais importante do que a pessoa que dirigia essa caminhonete que bateu”? A única diferença entre eles era que um eu conhecia e o outro não...

Foto 4: Andrea em San Fernando. Brincando!

Em San Fernando dormimos duas noites no apartamento da super “buena onda” (gente boa) Andrea, psicóloga apaixonada por viajar e que não tem TV em casa porque ela lhe toma muito tempo de vida. Na cidade fomos a uma feira na rua e aproveitamos para comprar kiwis e morangos, que são bem mais baratos que no Brasil (e mais baratos que banana, hehe). Chile, além de internacionalmente reconhecido produtor de vinho, é, como um “bom” país latino-americano, grande exportador de matéria-prima. Aqui há muita extração de minérios e produção de frutas, especialmente o kiwi e os “berries”, como morango, arándano e cereja.

Através do Facebook, Mariano se contatou conosco, mais uma pessoa que deixou a loucura de Santiago e se mudou para um lugar mais tranquilo com a família; ele está começando uma empresa de turismo com bicicletas (Winkultrips, “winkul” significa Colina no idioma indígena mapuche) perto da cidade de Pichidegua, e se ofereceu para mostrar-nos os atrativos da região, pedalando. Assim, combinamos de nos encontrar no início de uma estrada que se chama “carretera de la fruta” (estrada da fruta).

Foto 5: As Alcachofras mais baratas da minha vida.Cada flor 6 reais.

Ele veio com seu sócio Pierre, e, juntos, nos levaram a um tour de bicicleta pela região da Laguna de Taguatagua, nos mostrando fósseis marinhos, um cemitério indígena, um museu regional que explica um pouco da história local, uma região de cultivo que até os anos 1840 era uma lagoa de mais de 100km quadrados, e as “ruedas azudas” que são um engenhoso sistema de bombeamento de água sem o uso de energia elétrica, uma herança jesuítica do século XVII. Dormimos em sua casa, e no outro dia fomos fazer um tour pelas vinhas da região, o Valle del Almahue, passando por uma Casa Grande de um latifúndio do século XVII que se pode visitar por dentro; mas não pudemos visitar a bodega pois houve um problema de comunicação entre Mariano e os donos, e ela estava fechada.

Foto 6: Casas vieja, tour pelas viñas.

Seu desejo é que nós ajudemos a divulgar seu novo negócio através de nossa página. Além disso, gravamos um vídeo em português para ele, contando um pouco do que vimos em nossos passeios pela regiao. O preco dos tours varia de 90 a 120 dólares, o que mostra que ele está mirando um público específico de turistas (que não nos inclui), que, segundo ele, inclui brasileiros que vao a Santiago esquiar na temporada de inverno. Os tours incluem as bicicletas e almoço no campo, num hotel boutique, com direito a música clássica ao fundo.

Foto 7: Valle Almahue.

Depois de gravarmos o vídeo, pedalamos 15km e chegamos a Pichidegua, onde nos encontramos com Camila e Rodrigo, um jovem casal de médicos chilenos. Era dia de jogo do Chile pelas eliminatórias para a Copa do Mundo, e com eles assistimos ao jogo.

No próximo diário de bordo contaremos como foram os dias entre Pichidegua e Valparaíso, o ponto de parada tao aguardado por nós neste país onde recebemos tanto acolhimento de casas e famílias.

Vamo que vamo!!!

Informação do percurso

Mapa do percurso

Dia 225 ao 235 - 3 a 13/11/2015

De: Victoria, Chile

Para: Pichidegua, Chile

Gastos até agora: R$13.087,89

Gastos por dia: R$55,69

Distância pedalada até agora: 3125km

Distância percorrida de carona, de ônibus, de barco e de trem até agora: 6571km

Furos de pneu até agora: 10

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